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Foto do escritorJulio Cesar França Franco

O Longo Trabalho

"Deve existir pelo menos quinhentos milhões de budistas vivendo hoje em dia espalhados pelo mundo, mas a situação era bem diferente quando o próprio Buda estava pregando!

Buda era príncipe de nascimento, mas desgostoso com as condições ignorantes com as quais o homem se havia resignado - as condições de tristeza e de sofrimento - deixara seu palácio em busca da luz.

Depois de longa e árdua penitência, descobriu que o desejo estava na raiz de toda a miséria humana e que, se o homem pudesse ficar completamente livre do desejo, conseguiria a paz e a bem-aventurança. Porém, ele sabia que não era possível a todos ficar totalmente livres de desejos.

Contudo, persistiu em dizer a verdade aos homens, pois pensava que haveria algum benefício se eles aprendessem alguma coisa. O homem poderia ser feliz, até certo ponto, se ganhasse controle sobre suas avidez e outras paixões. Assim, Buda, com um punhado de discípulos, viajou pelo país, espalhando sua mensagem entre o povo. No início de sua missão, poucas pessoas o ouviam. Não apenas isso, havia ocasiões em que era expulso das portas e lhe recusavam até mesmo abrigo por um pouco.

Certa vez, em dia de verão, quando o sol abrasador queimava no céu, Buda sentou-se e, reclinando-se sob uma árvore à beira da estrada, suava profusamente e parecia cansado.

Um de seus jovens acompanhantes, que sabia de que maneira luxuosa Buda havia passado sua infância, pensou consigo mesmo: "Nesta hora ele poderia estar confortavelmente descansando em seu palácio num divã de marfim, com donzelas encantadoras abanando-o ou aspergindo água fria e perfumada sobre ele, com músicos tocando doce acalanto do lado de fora de seu dormitório. Mas que pena! Que vida dura ele escolheu!". A medida que o jovem pensava mais sobre isso, lágrimas escorriam pelo seu rosto.

Isso não escapou à atenção de Buda que perguntou:

"O que o faz tão triste?"

"Meu Senhor!" explicou o jovem "que outros não saibam, mas eu sei que o Senhor é Divino. Se quisesse, poderia dar iluminação e bem-aventurança a todas as pessoas instantaneamente. Em vez disso, por que se dá ao trabalho de viajar e falar a pessoas sem caridade?"

Buda ficou quieto, mas sorriu, e isso foi o bastante para encher de paz o coração do discípulo.

Dias depois, durante um semelhante meio-dia tórrido, quando descansava sob uma árvore nas proximidades de uma aldeia, Buda chamou o mesmo jovem para seu lado e disse:

"Meu filho, vá à aldeia próxima; procure todos os chefes de família e pergunte-lhes o que mais desejam, o que os faria felizes e satisfeitos!

Imediatamente o jovem partiu para a aldeia vizinha, como lhe fora ordenado, enquanto o Mestre aguardava no local. Já era quase noite quando o jovem retornou.

"Quantas pessoas você encontrou? Que responderam às suas perguntas?" indagou Buda.

"Meu Mestre! Visitei uma centena de casas e encontrei os chefes de famílias. Cinqüenta deles disseram que ficariam felizes se pudessem ganhar mais. Dez responderam que seriam felizes se seus filhos fossem venturosamente casados e estivessem estabelecidos na vida. Dez desejavam melhores casas para morar e outro dez disseram que seriam felizes se fossem curados de suas doenças. Dos restantes vinte, metade desejava ser famosos e saírem vitoriosos em litígios que estavam envolvidos", declarou o discípulo.

"Quantas pessoas queriam liberação de desejos? Quantos disseram que seriam felizes se conseguissem iluminação?" perguntou Buda.

"Meu Senhor! Nem mesmo um!" gaguejou o discípulo.

Buda sorriu e disse:

"Veja meu filho, como posso eu dar a alguém aquilo que ele não sente a menor necessidade?"

O discípulo ficou silencioso."

O homem no planeta Terra ainda almeja infelizmente em sua grande maioria de coisas fúteis as quais não poderá levar para a alfândega do mundo espiritual.


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