"
Mamãe, minha boa mãe, se tu soubesses Que tua imagem adornei com flores, Que tuas flores foram minhas preces, Preces colhidas no jardim das dores…
Minha querida mãe, se te contasse O medo que senti sem teu carinho, Um medo horrível de morrer sozinho. Medo mesmo que o medo me matasse… Mas deixei meu abrigo e avancei Julgando ver a morte a cada passo Ao ouvir o sibilar de um estilhaço… Parei… Pensei em ti… Continuei…
Minha querida mãe se te dissesse Que quando derrubou-me uma granada Atirando-me na terra enlameada, Foi por ti que chamei desesperado. Por um momento deixei de ser soldado E fui novamente uma criança Sentindo na morte a esperança De ainda adormecer no teu regaço. Mamãe. Matou-me um estilhaço…
Minha querida noiva, por que choras? Relembras por certo as boas horas Que passamos juntos. Só nós dois… Íamos casar. Lembra-te ? E depois… E depois uma casa retirada. Cortinas nas janelas enfeitadas, Tu me esperando… eu vindo do quartel… A nossa casa um pequenino céu, Aberto a vinda de um herdeiro…
Meu sonho, meu sonho derradeiro, Foi de beijar-te antes de morrer. Mas ao golpe frio da granada, Beijei apenas a terra ensangüentada.
Mamãe, minha noiva, aqui se encerra Uma história de sangue, esta é a guerra. Não chorem. Tudo é terminado Rápido como coisa de soldado…
Mas mamãe…
Se novamente a pobre humanidade Mais uma vez em busca da verdade Rufar seus tambores sobre a Terra Anunciando mais sangue e outra guerra, Se outro filho a Pátria te exigir, Sem lágrimas mamãe, deixe-o ir… Embora te destrua o coração, Ainda que te alquebre a agonia Faça-me um favor mamãe, Peça a esse irmão, Para que seja também da INFANTARIA !"
Comments